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sábado, 7 de dezembro de 2002

Beta começou com a história de cartinhas pros amigos, Rafael me perguntou quem era a Patrícia. Aí vai:

A Patrícia.
   Patrícia é INEX - ela não existe. Era assim que falávamos de pessoas bacanas. Ela é a mais de todas.
   Começamos com 12 anos. Não sei por que me tiraram da 6a. C, deve ter sido porque ninguém me dava a menor bola e ainda riam de mim me chamando de Rapunzel Arrependida. Mudaram-me pra 6a. A. Não lembro como foi nossa primeira conversa, mas deve ter sido algo como "Ih, garota beshta, onde já se viu falar 'pórita'? Fala porrrta, feito gente decente!". Serei eternamente grata, mas o "sh" de carioca não falo até hoje. Ela é assim: vai falando. Nunca a vi mudar uma vírgula de sua personalidade pra agradar a quem quer que seja, nem mesmo as famosas patotas que se costumam formar entre meninas dessa idade. Era a única que dizia boas verdades sobre a nossa colega socialite. Ironicamente, ela foi a primeira da turma a beijar na boca. O menino mais cool da classe. E como ela é ela, não contou pra ninguém.
   Não babava pelos meninos do terceiro ano, como todas as outras. Exceto, talvez, quando o João Pedro estava no terceiro ano. Jura de pé junto até hoje que aquela menina que virou atriz de cinema a) tinha o cabelo ruim e b) deu em cima do namorado dela, o que eu duvideodó mas não discuto pra não perder a amiga.
   Fala do presente como se fosse um passado remoto e do passado distante como se fosse ontem. Ouvia todas as minhas abobrinhas e não contava quase nada, porque era tímida. Uma vez apareceu na minha casa e passou a tarde inteira comigo, só chorou quando estava quase indo embora. Tinha terminado com o namorado - já não me lembro qual, mas com certeza já durava mais de um ano - e não quis estragar meu dia, disse.
   Inteligente, engraçada e boa desenhista, nunca precisou estudar muito pra passar. Ficava fazendo graça e desenhando. Trocávamos uns 20 bilhetes por dia: desenhos, fofocas, deboches sobre os professores, programações para o dia seguinte, batalha naval, forca, toda uma documentação que, houvesse sobrevivido ao tempo, seria inestimável. Falávamos muito. Bruno tentava ser nosso cúmplice, os professores lhe chamavam a atenção imediatamente, um menino tão bom.
   Matava aula pra ler gibi no playground do prédio, nunca sabia as datas das provas, fazia trabalhos meia-boca, avacalhava os teatrinhos da aula da Dona Regina, avacalhava a coreografia da SUarte e parecia andar com a certeza de que aqueles seus anos não seriam desperdiçados com dramatizações sobre a lenda da mandioca ou uma pagação de mico anual no Campão.
   Os bilhetes também eram sobre os namorados, namoradinhos e paqueras, presentes (os dela) e futuros (os meus). Juntas formamos um verdadeiro exército de paixõezinhas consumadas ou frustradas, ou ambas as coisas. Eu fui a vela convicta de três anos inteiros e dois namorados, acho, e ela foi a confidente de inúmeras paquerinhas. Nunca me levou a sério - que isso não é dela -, irritando-me às vezes mas ensinando-me o imprescindível humor de nós mesmos. Mas me apoiava sempre, à sua maneira, contando-me que um dos meus amigos tinha ciúmes de mim (eu nunca teria percebido), ouvindo as lamentações do Mineiro pra me contar depois e imitando a Dona Regina aos gritos no corredor: "A Helô tem namoraaaaadoooo!", frase célebre seguida da exclamação dupla do nome do menino. Sei que não parece dizendo assim, mas me apoiava. E estava sempre a postos, ao contrário de outras pessoas que se diziam minhas amigas.
   Claro que tem defeitos. Fala mais que a boca, é enrolada e nunca me leva a sério. Qualidades são tantas que não sei se este texto termina.
   Sempre criticou a minha casa. "Muita tranqueira", dizia a dona das 200 revistinhas Disney, coleção completa da Inspetora de de Conan Doyle, material de desenho pintura e artesanato, e o boneco do Snoopy. Isso sem contar a coleção de discos da irmã mais velha, pop anos 80.
   Tem uma tia inacreditável que apareceu no livro sobre bossa nova do Rui Castro, uma mãe que é um amor e trabalha pra chuchu, um primo bem gatinho, e um apartamento com uma vista bárbara mas aonde é um sacrifício ir a pé. Agora tem também um sobrinho.
   Ganhou um cachorro de presente logo que nos conhecemos. O primeiro Sherlock do Parque Guinle. Você vai lá agora e deve ter uns 10 cocker spaniels chamados Sherlock. É porque até o cachorro é simpático (puxou a madrinha). A mãe dela nunca limpou uma sujeirinha dele (fora quando solicitada formalmente), pois condição para tê-lo era responsabilidade completa. Fora ter que ficar sem banho em época de prova, ele nunca reclamou.
   Quando eu deixei de ser Caxias, como ela me chamava, e quis fugir de casa pela primeira e única vez, foi ela quem me levou, pra horror do meu pai. Apoio incondicional.
   Ela está sempre presente. Não nos falamos com tanta freqüência, mas eu simplesmente sei que ela está lá pra mim, e que eu estou aqui por ela. O resto é o resto.

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