Para a Estrela.
De repente Lóri não suportou mais e telefonou para Ulisses:
-- Que é que eu faço, é de noite e eu estou viva. Estar viva está me matando aos poucos, e eu estou toda alerta no escuro.
Houve uma pausa, ela chegou a pensar que Ulisses não ouvira. Então ele disse com voz calma e apaziguante:
-- Agüente.
Quando desligou o telefone, a noite estava úmida e a escuridão suave, e viver era ter um véu cobrindo os cabelos. Então com ternura aceitou estar no mistério de ser viva.
Clarice Lispector in Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, 19a. ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1993. pp. 133-134.
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