A minha história não termina aqui. Ela é um pedaço de hélice, sob certos ângulos tem-se a impressão de que apenas começa, mas não: vem de tempos imemoriais. Mesmo o pedaço que testemunhei às vezes parece tão longo que até me canso. E a hélice se estende a perder de vista, pois quem pensa em um fim não sabe do que fala.
O único problema é que ter consciência de que a hélice gira sozinha não me ajuda muito. Primeiro, porque se ela vai girar mesmo surge a preguiça - eu? - de tomar caneta e papel e desenhá-la. E, depois, ainda que tenha a minha ajuda, controle eu não tenho sobre para onde serpenteará a danada.
É por isso que o meu primeiro impulso é encolher-me e ficar assim, quietinha, e, esperar o mundo passar lá fora, tomando a precaução de espiar pela beirada do cobertor vez por outra.
I have heard what the talkers were talking.... the talk of the
beginning and the end,
But I do not talk of the beginning or the end.
(Whitman, Song of Myself, trecho)
terça-feira, 4 de maio de 2004
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